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Este texto é a tradução de uma entrevista realizada pela editora Kodansha, responsável pela publicação da série de mangás BL de Tasogare OutFocus, da autora Jyanome, nos Estados Unidos, com o título em inglês Twilight Out of Focus. Originalmente, foi publicada em duas partes no site da Kodansha. A entrevista foi realizada como parte da comemoração do lançamento dos 4 volumes iniciais da série que se passam no mesmo universo (Tasogare Outfocus, Zanzou Slow Motion, Yoiyoi Monologue e Tasogare Outfocus overlap).
É possível adquirir o box set na Amazon brasileira.
No começo desse ano, Jyanome, a autora e diretora final da série BL de cinema Twilight Out of Focus, sentou-se com a editora da Kodansha Usa Publishing, Alexandra McCullough-Garcia, para falar sobre a jornada criativa da mangaká e o mundo do clube de cinema da escola Midorigaoka.
Agora, para celebrar o lançamento do box set de Twilight Out Of Focus, estamos mostrando aos fãs uma espiada na conversa delas!
De Rabiscos a Serialização: O caminho de Jyanome para o Mangá.

Editora: Pode nos contar como você começou a fazer mangá?
Jyanome: Sim,claro. Eu comecei a desenhar na escola primária. Tinha um concurso de quadrinhos de quatro painéis em todas as férias de verão e inverno e eu meio que entrei sem pensar. Foi assim que eu aprendi a dividir mangá em quadros. Meu mangá pra inscrição foi de comédia, com o último quadro sendo a piada. Acho que estava na primeira série.
Editora: Então você continuou desenhando depois disso?
Jyanome: Não constantemente, mas eu gostava de desenhar como hobby, então fiz ilustrações e mangá e outras coisas de forma regular. Mas entrei numa banda no ensino médio, então acabei não desenhando muito.
Editora: Então como você decidiu tornar-se mangaká profissional?
Jyanome: Na verdade, eu nunca decidi. Tudo que fiz foi compartilhar umas coisas online. Na época, era algo popular de se fazer, compartilhar sua arte em alguns sites, então pensei em fazer o mesmo. Depois de um tempo, recebi uma oferta para compilar meu trabalho para uma revista e foi assim que eu estreei. Mesmo na época, não senti que tinha me tornado uma mangaká. Nem um pouco. Apenas pensei que seria uma memória legal. Mas aí outra revista chamada LYNX entrou em contato e perguntou se eu gostaria de começar uma série com eles. Foi aí que senti “Oh, então eu sou uma mangaká mesmo.” Nunca tentei mesmo me tornar profissional. Já mencionei isso em outras entrevistas antes, mas, na verdade, nunca foi meu objetivo me tornar uma artista profissional. Só meio que aconteceu, o que considero meio embaraçoso.

Um Amor para a Vida Toda: Descobrindo e Abraçando o BL.
Editora: Nem um pouco! Então, como começou a desenhar BL?
Jyanome: Bem, eu amo BL. As pessoas me perguntam isso bastante e isso é um dos motivos. Mas agora eu percebo que a outra parte é que eu não achava que alguém leria meu mangá a menos que fosse BL. Na época, quando estava fazendo um monte de doujinshi, ouvi que as pessoas só queriam ler BL. Era isso que você sentia fazendo trabalho amador na época. Era meio que entendido entre autores amadores que deveríamos fazer BL. Então acho que isso meio que me influenciou também. Foi o que pensei. Mas não é como se eu tivesse decidido me tornar mangaká profissional de BL. Só pensei que se fosse para desenhar um mangá, gostaria que fosse um BL sobre estes dois personagens e foi aí que comecei a postar online. Me pergunto se isso respondeu sua pergunta. (Risos)
Editora: Claro!
Jyanome: Então, sim. Foi assim que comecei no BL. Acho que o melhor jeito de explicar o que eu amava era o BL.
Editora: Você sempre foi fã de BL? Lembra qual foi o primeiro que leu?
Jyanome: Sim. O primeiro BL que eu li foi uma antologia spin-off de Captain Tsubasa. Estava na oitava série e peguei de uma amiga que ficou “Olha isso.” E era um exemplo claro de uma antologia BL, do tipo meio extremo. Depois disso, comecei a ver BL em outros lugares e notei que essas histórias também apareciam em revistas profissionais. Estou tentando pensar em títulos específicos. Por exemplo, eu totalmente categorizava Mari to Shingo como BL na minha cabeça, mesmo que não seja oficialmente. Ou mangás tipo Slam Dunk. Meu headcanon é que é BL. (Risos) Mesmo que seja claramente amor platônico, não consigo evitar de pensar que é uma história BL. Tem um mangá chamado The B.B.B., de autoria de Akisato Wakuni-sensei, e nele tem um garoto que aparece e diz claramente que gosta de outro garoto. Acho que foi o primeiro mangá onde isso aconteceu. Você deveria ir atrás, se tiver curiosidade. Talvez seja melhor dizer que foi o primeiro mangá que li onde um personagem masculino fala como ele gosta apenas de outros garotos, seja em questões de atração física ou de romance. Foi só depois que eu li mangás mais antigos como Mari to Shingo, que foi popular com uma geração anterior a minha, então The B.B.B. foi provavelmente a primeira vez que li um mangá onde o garoto fala com clareza que ele gosta de outro garoto.
Editora: E o que você achou? Qual foi sua reação ao seu primeiro boys love?

Jyanome: Eu fiquei “Oooh! Ah, meu Deus!!”. Fiquei tão animada. Tipo, isso é incrível! (Risos). Não conseguia acreditar que algo tão incrível existia. Como explicar? Isso pode parecer um pouco pretensioso, mas, acima de tudo, senti que tinha encontrado algo que era perfeito para mim. Era tão divertido de ler. Logo depois, uma amiga sugeriu que eu desenhasse algum BL e eu falei, “Ok, vamos todos escrever algo juntos”. Essa pessoa se animou bem rápido e até quis começar a fazer doujinshi, como estudante do fundamental. Ela ficou tão empolgada. Mas fazer doujinshi é bem caro, então é meio que um hobby de adulto para um estudante do ensino fundamental. Não era acessível naquela época, mas nós decidimos começar a escrever em conjunto e falamos como adoraríamos juntar nossos rabiscos em um livro em algum momento. Então, rapidamente e naturalmente, formamos esse grupo de fãs de BL. Mas aí, essa amiga que era super apaixonada por BL e começou a ler bem antes que eu, provavelmente no ensino primário, se ela era tão viciada na oitava série, no fim da nona série, essa amiga declarou que ela cansou de BL e não queria falar mais disso.
Editora: Uau, bem rápido!
Jyanome: Sim! Ela meio que me deixou para trás e eu quem nunca deixei de gostar. (Risos)
Editora: O que você acha que torna o BL tão apaixonante?
Jyanome: Boa pergunta. É uma questão meio difícil, mas basicamente penso que é adorável. Ver um garoto que eu acho adorável se apaixonar por outro garoto e ter um romance adorável. É tudo tão agradável. Ainda leio um monte de BL hoje em dia e meio que é cheio de coisas que eu gosto. É super empolgante. Não quer dizer que romances entre um garoto e uma garota ou entre garotas sejam inferiores. Eu apenas acho que o BL é o mais apropriado para mim. É o que faz meu coração disparar. Acho que muitos fãs de BL pensam nisso e se perguntam porque gostam tanto de BL, mas, sinceramente, neste momento, não acho que o porque importa muito. Acho que se você gosta de algo, você gosta e é isso. Sabe, quando eu era adolescente, achava que provavelmente deveria deixar o BL de lado quando fizesse vinte anos [A idade da maioridade japonesa].
Editora: Sério? Por quê?
Jyanome: Sim, sério! Eu pensei que era algo que você tinha de abandonar quando virasse adulto. Acho que é comum entre otakus. Quando você é jovem, parece que tem um limite para o quanto pode fazer certas coisas. Tipo, assim que fizer tantos anos de idade ou assim que começar a trabalhar, eu terei que parar isso ou aquele hobby, ou algo assim. Meus amigos e eu costumávamos falar sobre isso. E o BL era uma dessas coisas que pensávamos que teríamos de deixar para trás. Sentia que era um hobby que eu teria de abandonar, algo que poderia manter apenas na minha juventude. Mas agora que cheguei tão longe, acho que vou continuar gostando para sempre. (Risos) É meio estranho ficar procurando tanto por um motivo. A razão é que eu amo. Amo escrever, amo ler. Apenas amo. Honestamente, acho que sou uma grande fã de BL, pois meu amor por esse gênero é maior que dos outros. Eu tenho certeza que não perderia para ninguém por aí. (Risos) Como explicar… É algo que quero que mais e mais pessoas amem também. Tenho essa vontade de ficar “É tão divertido! Você deveria ler!”

Luz, Câmera, Personagens! Por trás das cenas de Twilight Out of Focus.
Editora: Eu adoro isso! Pessoas deveriam ler! Mudando o assunto para Twlight Out of Focus, pode nos contar como a história foi criada?
Jyanome: Bem, tudo começou quando eu estava pensando junto com meu editor sobre que tipo de série fazer em seguida. Uma parte minha queria fazer algo voltado para um clube escolar, então começou aí. Mas então, que tipo de clube? Eu estava no clube de kendô por anos e anos, e isso é meio que um time esportivo, não é? Mas não parecia certo, então comecei a pensar sobre que tipo de clubes não esportivos e culturais podem ter material interessante e pensei que poderia ser bem legal ter estudantes do ensino médio fazendo filmes. Então o clube de cinema foi a primeira coisa a aparecer.

Depois disso, comecei a pensar em como um protagonista de um mangá de um clube de cinema deveria ser. O Mao chegou primeiro. Inicialmente, eu pensei que poderia junta-lo com outro membro do clube, mas senti que isso era errado. Então, se o Mao era um cameraman e não o diretor, isso traz um certo mistério. Não sei porque eu queria que ele fosse o cameraman e não o diretor, mas se ele está por trás da câmera, seria legal se o par dele fosse alguém na frente, um ator. Alguém para o Mao filmar. Foi aí que o Hisashi surgiu. Costumo desenvolver os personagens em pares, para que suas personalidades e outras coisas se complementem, então trabalhei nisso.

Em seguida, tem sempre uma parte minha que quer que meus personagens principais tenham amigos, então segui para criar os outros membros do clube de cinema que poderiam ser amigos do Mao, como Giichi, Runa e Teru. Daí em diante, seguiu bem rápido. Meu editor foi quem sugeriu que fosse uma escola só para rapazes. Ele é meio assim. (Risos) Tipo, “Quanto mais rapazes, melhor! Quem precisa de meninas?!”. Meio malvado, né? (Risos) Inicialmente eu fiquei, “Ah, para, precisamos de meninas para ficar empolgadas sobre nossos rapazes!”, mas fico feliz que seguimos com a escola masculina. As coisas ficam mais simples dessa forma. Não fica tudo bagunçado. A questão do dormitório foi minha ideia, eu acho. Fiquei “Vamos coloca-los num dormitório!”. Eu fiquei meio gananciosa. A partir daí, quando localizei meus personagens, eles meio que fazem suas coisas e movem a história. É basicamente o que aconteceu.
Editora: Sim, tenho curiosidade sobre isso. Você mencionou, em entrevistas anteriores, que seus personagens nem sempre fazem o que você quer, mas poderia explorar em mais detalhes? São seus personagens, certo? Eles tem mentes próprias? Como é isso?
Jyanome: É que, tipo, eu não posso move-los como peões. Por exemplo, estamos falando agora, certo? Mas eu sei apenas o que você me contou. Não sei coisas das quais não falamos ainda. É tipo assim com meus personagens. Tem coisas que sei sobre eles e coisas que não sei. Tipo, eu realmente não entendo também, mas não sei nem os aniversários deles para começo de conversa. É estranho, já que todos eles vem de mim, mas não perguntei quando os aniversários deles são, então eu não sei. Mas, enquanto escrevo a história, outro personagem pode comentar “Ei, Otomo, seu aniversário não é em novembro?” e aí que penso, “Ah. Então ele nasceu em novembro”. Em algum momento, paro e penso se é isso mesmo que eu quero que seja? Mas aí clica que o Hisashi parece sim ser um bebê nascido no inverno, então sigo com o que ouvi. É meio assim. A medida que sigo a história, mais eu conheço cada personagem. É assim que notei que o Mao gosta de comer, que ele adora lanches e karaage. Foi apenas depois de vê-lo em uma cena onde comida aparece que eu notei, “Ah o Mao é meio comilão.” Perdão, sei que estou falando algo bem estranho, mas é assim que acontece. Não sei como explicar. Por exemplo, quando estão filmando o filme do clube de cinema (no primeiro volume), as coisas não vão bem e o Mao compra um monte de comida para animar o Hisashi quando eles saem para conversar. Mas foi só quando chegamos nesse momento que me dei conta que ele provavelmente fez isso porque também ama comer. Eu não teria como saber isso antes.

Então, mesmo que tente impor minhas ideias neles para preencher o que não sei, não consigo pergunta-los se fiz da forma certa e eles não agem dessa forma para mim. É como se eu não soubesse mesmo. É apenas depois de seguir após várias cenas que me mostram como eles são, que eu posso criar perfis para eles. Perdão, tenho dificuldade em colocar em palavras, mas é meio assim. Você pode chamar de inspiração ou pode falar que eu não penso como eles se portariam em uma situação específica até que ela aconteça, mas é assim que aprendo coisas sobre meus personagens, como desenvolvo meu relacionamento com eles.
Editora: Por favor, não peça desculpas! Acho que isso é incrível.
Jyanome: É bem difícil. Não estou tentando soar maneira ou algo assim, é só como é! (Risos) Por exemplo, o Hirohiko Araki-sensei, escreve perfis para todos os personagens dele no começo, preenchendo seus ataques especiais e coisas assim numa planilha. Eu tentei fazer isso uma vez, decidindo seus aniversários, ataques especiais, coisas que eles são ruins. Mas depois de passar por tudo isso, nada disso apareceu na história e fiquei pensando “Por que eu preciso me prender assim?” Digo, posso ver como seria interessante adicionar essas regras e fazer as coisas mais desafiadoras para mim, mas não é como um aplicativo de namoro onde você pode trocar perfis ou algo assim. Não funciona bem para histórias de romance, então eu desisti.
Editora: Você pensa nos seus personagens como seus filhos?

Jyanome: Meus filhos… Não, não é nada tão específico. Mas sinto que tenho relacionamentos diferentes com personagens diferentes. Por exemplo, o Giichi eu vejo como um amigo. Alguém que posso zoar um pouco e ficar, “Qual é, Ichikawa, por que você é sempre assim?!” e ficar meio frustrada com ele. Por outro lado, o Hisashi Otomo parece muito distante. Ele não é alguém que eu conseguiria zoar tão facilmente. Depende muito do personagem. Me sinto mais próxima do Mao, mas acho que se tentasse zoar com ele, ele pode, tipo, ficar distante, então não faria isso. Por isso, não diria que eles são todos meus filhos igualmente. Alguns eu sinto mais proximidade, outros mais distância. Disse isso em outra entrevista, mas, quando trabalho em uma série, é como se estivesse criando relacionamentos com pessoas que vivem no apartamento vizinho. Somos próximos, mas não tão próximos. Aí, quando a série acaba, é como se eu me mudasse, então não sei o que acontecesse com esses personagens que estão tão distantes. Em um certo momento, me pergunto “Eles estão bem? Espero que estejam”. É assim que me relaciono com meus personagens. Por isso, também acho que seria bem difícil para mim fazer algo muito ruim acontecer com eles. Acho que teria que tomar uma posição muito similar a um Deus para ser capaz de matá-los ou algo assim. Seria como abrir a porta do apartamento dos meus vizinhos e achá-los mortos. Seria um choque imenso. Acho que teria que me preparar para ser um Deus que lança raios tipo Zeus antes de ser capaz de criar personagens que tem finais ruins. Mas eu não sei porque. Gostaria de me desafiar a tentar um dia.
Editora: Isso é fascinante! Então isso significa que você não sabe o que acontecerá com eles daqui uns anos?
Jyanome: Exato. Mas eu penso nisso. Tipo “Ah, seria ótimo se o Hisashi pudesse se tornar ator profissional em alguns anos” e penso como essa história seria. Mas não saberia até o momento que sento e penso “Ok, vamos escrever!”. Mesmo que eu diga, por exemplo, “Decidi que você será um ator, então é isso”, não sei se o Hisashi concordaria. Dito isso, tenho esperanças para meus personagens.
Os Rapazes Da Casa Ao Lado: Conhecendo o Clube de Cinema Amigável da Vizinhança.
Editora: Se não se importa, gostaria de saber mais sobre seus “vizinhos”. Você sabe os filmes favoritos do Mao, Hisashi e Giichi?
Jyanome: Sim, e certamente são filmes japoneses. Mas, como explicar, eles são estudantes do ensino médio, então os favoritos deles não seria algo tão nichado. Falando como mangaká, você quer que os leitores conheçam um pouco os filmes que aparecem na história, então creio que escolhi os favoritos deles com base no que as pessoas podem conhecer. Por exemplo, o Mao e o Giichi falariam que seu filme favorito é Os Setes Samurais do Akira Kurosawa e que são fãs do diretor Yasujiro Ozu. Isso é o que pensei. Mas o Mao também tem um poster do Toshiro Mifune no quarto dele. Eu deixei isso claro para os produtores do anime também.

Além disso, eu realmente escolho o filme que está passando em cada cena específica em que isso acontece. Tipo, o Giichi e o Jin estavam assistindo Lawrence da Arábia (no volume 2). Escolhi ele, porque é um filme mais longo, mas, quando estávamos trabalhando no anime, todo mundo me falou “Sim, é longo, mas não é silencioso. É tão barulhento!”. E é mesmo. Sempre tem, tipo, um “bang bang!” e outros sons de guerra passando. (Risos) Eu queria comentar, tipo, “Tem outras cenas mais silenciosas!”. Mas a maioria da segunda metade é super barulhenta. Afinal, é um filme de guerra. Uma parte minha ficou “Sim, claro, talvez tivessem outros filmes longos que eu poderia escolher”, mas realmente gosto do começo daquele filme. Pareceu apropriado para aqueles dois. Também é um filme que, pessoalmente, amo. Mas nunca esperei que chamariam minha atenção por ser um filme barulhento. (Risos) Isso me surpreendeu.
Editora: Hm! Então, como foi que o Mao começou a gostar de filmes?
Jyanome: Ah, isso eu sei, com certeza. O que aconteceu foi que o pai dele gostava muito de fotografia e tinha uma câmera real, então, inicialmente, o Mao usava ela para tirar fotos da família. Ele começou gostando de fotografia. Mas logo começou a gostar muito da função de vídeo da câmera, então começou a fazer vídeos caseiros. Foi daí que surgiu a vontade de melhorar com a câmera. Daí em diante, ele se apaixonou cada vez mais por filmes e vídeos. Na minha cabeça, não foi como o Giichi, onde ele viu um filme que o emocionou muito e decidiu fazer o seu. Para o Mao, ele tinha esse sentimento dentro dele, que ele queria filmar algo, e isso que o levou a se juntar ao clube de cinema.
Editora: Então, o que você acha que o Hisashi pensa sobre se tornar um ator?

Jyanome: Essa é difícil. Acho que a vontade de atuar é algo muito novo para o Hisashi, como uma folha jovem ou uma semente se formando. Mas acho que ele pensa algo similar a “Ah, eu sou melhor nisso do que pensava”. Isso não é algo muito bom, mas Hisashi é um pouco mentiroso, então é meio natural para ele se tornar alguém diferente e falar coisas que ele não queria dizer. Eu acho que ele fica surpreso com quão prazeroso é ser capaz de fazer isso. Mas espero que, seguindo em frente, ele tenha uma visão mais positiva sobre atuação e possa se divertir. Por agora, ele ainda está decidindo que isso pode ser algo no qual ele é bom. Mas, honestamente, o Hisashi é majoritariamente motivado pelo desejo do Mao elogiá-lo. Ele só quer ser amado pelo cara que ama. Então, acho que acima de tudo, ele pensa que o Mao não vai se cansar dele, enquanto ele ficar ligado ao clube de cinema de alguma forma, então é o que ele faz. É bem calculista. (Risos)
Editora: E o Giichi? Qual o primeiro mangá BL que ele leu?
Jyanome: Sinceramente, eu totalmente me projetei nele nisso, mas o primeiro BL dele com certeza foi um romance escolar. Tenho títulos específicos na cabeça, mas os deixarei em segredo, parcialmente porque são de épocas diferentes. Mas, de qualquer forma, acho que seria um tipo de BL escolar fofo. É por isso que ele teve a ideia de fazer um filme BL com Hisashi e Honjou.

Editora: O Giichi é muito aberto sobre seu amor por BL. Nunca esconde. Ele sempre foi assim?
Jyanome: Sobre o Giichi, ele fala muitas coisas que eu queria poder dizer. Tipo, por muito, muito tempo, escondi o fato de que gostava de BL e acho que ele é o completo oposto. Não penso que somos similares em personalidade. Ele não é, tipo, meu clone. Para mim, ele é uma pessoa totalmente diferente. Mas tem muitas coisas sobre ele que eu admiro. Então, acho que, em parte, ele está fazendo coisas que nunca fui capaz de fazer. Eu nunca poderia dizer as coisas que deixariam outras pessoas com raiva como ele faz, nunca. (Risos) O invejo por isso, como ele não esconde seu amor por BL. Queria poder ser “Leia isso! Leia isso!” e ir espalhando mangá BL para as pessoas. Tipo, “Esse é incrível! E você já viu Twilight of the Warriors?!”. Então eu invejo ele por isso.
Editora: Pode nos contar algo sobre quando o Jin e o Rei eram crianças?

Jyanome: Eles, na verdade, estão juntos antes disso, basicamente até no nascimento. Os pais deles são tão amigos, praticamente família, e devem ter sido amigos de infância também, então os dois foram criados como irmãos ou primos. Acho que eles tem um relacionamento bem único, que não mudou muito ao longo dos anos. Precisam um do outro, mas nenhum deles notou isso. Acho que também são meio codependentes. Para mim, nunca teve nada de BL sobre o relacionamento deles, mas meus editores sempre suspeitaram que tivesse. (Risos) Por isso, estou determinada a nunca fazê-los ficarem juntos. Digo, claro que não! Cada um tem um namorado!
[Alerta de spoilers!!]
Então, para mim, a amizade deles é adorável. São basicamente uma família, amigos que são ligados por tudo, exceto sangue. Sobre o Rei, ele sempre foi um otaku de subculturas. Não gosta de jogos ou filmes em geral, mas de coisas que são de seu gosto, qualquer coisa de ficção científica. Então, eu não acho que ele pensaria em fazer filmes se o Jin não o tivesse puxado para isso. Ele provavelmente iria para os videogames. Mas o Jin falou que queria fazer filmes, então o Rei foi junto. Onde o Jin vai, o Rei vai. Esse é o tipo de amigos de infância que eles são. Aposto que o Rei costumava seguir o Jin para todo o lado quando eles eram criança. Isso ainda acontece, claro.
Editora: O Shion é um personagem meio único no BL, já que ele é direto e anuncia que entrou no clube de cinema para encontrar um namorado. Ele até passa por vários outros clubes para conseguir isso. Ele sempre foi tão confiante?

Jyanome: Honestamente, fiquei surpresa que pude escrever um personagem como ele. (Risos) Estou grata que pude, mas pensei que haveria uma chance dele não ter muitos fãs. Na verdade, achei que os fãs de BL pudessem não gostar dele. É que, a maioria de nós, eu inclusa, temos pouca autoestima. Digo, é difícil dizer, tipo, “Sou muito legal!” ou “Olha o quão incrível eu sou!”, certo? Então pensei que seria legal ter um personagem que tem essa aura de “Sou incrível!”, mesmo que não pensem assim. Como explicar… Acho que o Shion é um personagem que acredita em si mesmo. Mas isso não significa que ele é super confiante ou arrogante ou algo assim. Na verdade, acho que ele duvida de si mesmo tanto quanto outras pessoas, mas não demonstra isso. Por fora, ele vai sempre dizer, “Não, eu sei que sou fofo!”, mas, por dentro, ele é como todo mundo. Você pode ver isso em Yoyoi Monologue, onde ele fica deprimido sozinho, então não acho que ele é tão diferente assim, nesse aspecto. Acho que só gostaria que as pessoas vissem que elas podem ser mais como ele. Acho que a maioria das pessoas tendem a notar apenas suas falhas e se desanimar, e por isso se seguram. Então, pensei que seria legal ver esse garoto, que se recusa a fazer isso e tenta aproveitar ao máximo seus três anos no ensino médio. É o tipo de personagem que eu gostaria que sempre estivesse alegre e feliz. A maioria dos meus personagens não são assim. Quase todos são meio deprimentes e sombrios. Não tem ninguém que gostaria de ser o presidente do conselho estudantil ou algo assim. Nenhum deles tem o desejo de ter uma posição de poder sobre outras pessoas. Então pensei que seria legal ter um personagem desse tipo, para ser diferente, e foi assim que o Shion surgiu. Mas eu não fazia ideia que ele ficaria assim. Oriuchi-san, editor responsável por mim na época, sugeriu que eu fizesse um personagem lindo, adorável e que todos achassem realmente bonito. Uma pessoa realmente atraente. Foi o que tentei fazer. Não é algo que eu… Sendo franca, ele é como o Oriuchi-san. O tipo de pessoa que vem diretamente e fala “Eu quero que você faça um personagem lindíssimo, que possa ser totalmente obcecado com si mesmo!”. Mas acho que distorci um pouco o pedido e deixei ele meio esquisito.
Editora: Pessoalmente, eu amo o Shion. Principalmente ele ser tão aberto sobre o que gosta e quer.
Jyanome: Obrigada! Isso me deixa muito feliz. Eu também o amo. Desenhar ele me dá tanta energia. Ele é um menino muito proativo. Tenho a impressão que ele não comete erros bobos. Tipo, ele não é o tipo que esquece de pedir o número para um cara e não consegue ligar depois. Ele casualmente pediria, tipo, “Ei, pode me dar seu número, por favor?”. Ele consegue antecipar problemas de um jeito que mal consigo acompanhar. Ele é meio misterioso.

Editora: Realmente! Ele se achar fofo pode fazê-lo parecer arrogante, mas ele é muito bom lidando com os mais velhos e é bem educado.
Jyanome: Sim, exatamente! Sabe, quando estávamos trabalhando no anime, tinha muitos lugares no roteiro onde ele falava como era fofo, mas chegou a hora de cortar coisas e, inicialmente, cortaram tudo onde ele estava sendo educado ou agradecendo os outros. Precisei pedir muitas vezes, tipo, “Por favor não cortem isso tudo ou perderão todos os lados bons dele!”. Honestamente, encontraram um ótimo equilíbrio e o deixaram realmente fofo. Fiquei muito feliz com o resultado.
Uma nova chave para o mundo: Conhecendo a tradução para o inglês.
Editora: Pode nos contar o que pensou quando recebeu a oferta para uma tradução para o inglês?
Jyanome: Ah, eu fiquei extremamente empolgada. Sempre fico feliz de receber ofertas para traduções em qualquer idioma. Sempre me impressiona que tem pessoas ao redor do mundo que querem ler meus livros e editoras em outros países que querem publicá-los. Sendo sincera, a edição em inglês chegou meio tarde. A série saiu em alguns países europeus primeiro, além de Taiwan e Coreia. Na verdade, eu me perguntava em voz alta, tipo, “Será que teremos uma versão em inglês…?”. Quando a oferta veio, fiquei muito feliz. Realmente feliz. Eu dei a notícia para todo mundo que conhecia. (Risos) Fiz propaganda por toda parte. É que, tipo, tinha pessoas que falam outros idiomas, que comentavam que queriam ler em inglês. Inglês é algo que mesmo pessoas que não falam como língua materna podem ler de algum modo e alguns fãs comentavam que adorariam ler em inglês. Então, sim, fiquei muito feliz quando essa versão saiu e adoraria que todos lessem.
Editora: Você recebe muitas mensagens ou comentários de fãs do exterior?
Jyanome: Ah, sim, muitos. Tantos que me faz sentir que tenho menos fãs no Japão que no exterior. Sinceramente! Meus posts no X sempre parecem receber mais atenção no fim da noite.
Editora: Por causa da diferença de horário?
Jyanome: Sim, exato. Por isso, me pergunto se tenho uma base de fãs maior no exterior. Especialmente no Instagram, por exemplo, onde a maioria dos comentários que recebo vem do exterior. Isso é incrível. Eu queria poder respondê-los, mas só consigo fazer isso através de tradução, então é realmente difícil me comunicar. Isso é meio decepcionante. Digo, fico decepcionada comigo mesma. Mas eles tornam muito fácil apreciar o fato de que eu tenho leitores ao redor do mundo e que a tradução do meu trabalho é o que faz com que cheguem até mim.
Editora: Tem algo que você gostaria de falar para seus fãs internacionais?
Jyanome: Sim! Falo isso o tempo todo, mas quero que todos saibam que seu apoio é algo que me tocou profundamente e sou muito grata. Eu queria ser capaz de expressar de forma mais regular, mas nem sempre é fácil. Por isso que fico muito grata em poder dar entrevistas como esta, que será traduzida para outro idioma. Queria aproveitar este momento para agradecer sinceramente todos que apoiaram e leram meu trabalho. Eu vou continuar escrevendo muito, muito mais mangás e farei o melhor para criar oportunidades para que eles cheguem até vocês, então, por favor, me acompanhem se gostariam de ver mais!

Editora: Obrigada por isso! Uma última pergunta: Pode compartilhar o que achou do box de Twilight Out of Focus?
Jyanome: O que eu achei do box set? O design é incrível! De verdade! Nada como isso existe no Japão! Na verdade, acho que seria quase impossível fazer um box set como esse aqui, especialmente um lindo assim, então isso me deixou muito feliz. Honestamente, estou morrendo de vontade de mostrar para todos aqui, mas não saiu ainda, então não posso fazer isso. Mas, assim que for lançado, eu mal posso esperar para me gabar para todos no Japão, mesmo que eles não possam comprar. (Risos) Se você puder comprar, recomendo que compre!
Editora: Muito obrigada!
Confira Jyanome falando com entusiasmo sobre o box set (legendas apenas em inglês):